Cerâmicas estão optando pelo secador de talisca para melhorar a sua produtividade

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Novidade no Brasil, o secador rápido traz agilidade, reduz a mão de obra e dispensa uso de vagonetas e automatismo de carga e descarga

Por Aline Moura

O processo de secagem é uma operação fundamental na fabricação dos produtos cerâmicos. Após a etapa de conformação, em geral, as peças ainda contêm grande quantidade de água proveniente da preparação da massa. É necessário, portanto, eliminar essa água para evitar defeitos nas peças, como trincas, bolhas, empenos e quebras, e não restringir o desempenho do forno. Com isso, muitos empresários estão em busca de uma solução tecnológica que possibilite uma produção segura, rápida e eficiente, principalmente, em substituição à secagem natural – realizada de forma lenta, sob a ação do tempo (sol, vento ou galpão).

O Secador Rápido de Talisca tem sido a escolha de alguns ceramistas. Este equipamento funciona como um túnel, onde as peças a serem secas são colocadas em um único plano e transportadas em contracorrente (sentido contrário) em relação ao fluxo de ar quente controlado. Os principais diferenciais do Secador de Talisca são a secagem rápida, a dispensa do uso de vagonetas e do automatismo de carga e descarga, a redução de mão de obra e baixa manutenção. Segundo os fornecedores, a capacidade de produção varia de 10 a 30 ton/h, mas é preciso levar em consideração as propriedades da argila e das dimensões deste secador.

“Pelo fato do material após a extrusão ou prensagem entrar direto no secador sem contato manual, já garante um aproveitamento de 100% do produto. Sabemos que a produção de uma cerâmica se avalia pela secagem, com isso, tendo a garantia de produção da secagem por hora, se pode normalizar a produção mensal. A redução da mão de obra é um fator considerável, sendo que temos clientes que obtiveram uma redução comprovada de 30 funcionários com a implantação do nosso secador de esteira”, esclarece o diretor da Projectos, Paulo Gonçalves. O diretor da Natreb, Agnaldo Cezar Bertan, destaca ainda outro benefício do equipamento: “A redução de combustível de queima no forno, já que praticamente elimina o ´tempo de esquento´ para terminar de extrair a água dos produtos mal secos”. O diretor da Zucco, Adriano Zucco, reforça os pontos fortes do equipamento, em comparação aos outros modos de secagem: “A secagem natural leva muito tempo para o material estar em condições de ser queimado e depende das condições climáticas, sendo assim inviável. E a grande vantagem do Secador de Talisca para o Secador Convencional é que no secador de talisca não utiliza vagonetas. As vagonetas tem alto custo de fabricação”.

A Cerâmica Girão & Lima, situada em Quixere (CE), é a única no país com este equipamento em operação. A empresa saiu do processo de secagem natural para o artificial com a instalação de um Secador de Talisca devido à praticidade e ao custo-benefício do equipamento. Para o diretor da empresa, Cesar Augusto Gouveia Ramos, o secador convencional que existe no mercado exige mais manutenção e mão de obra. “Hoje, tenho uma produtividade de secagem de quatro mil telhas por hora. Na secagem natural, dependia do tempo, e no convencional, é no mínimo com 40% a mais de mão de obra. No secador de talisca a mão de obra custa R$50,00, já na convencional é de R$70,00. O secador convencional tem um custo operacional maior, com mais pessoas”, afirma Ramos, que completa: “A praticidade é muito boa e tem um menor contato humano. Hoje, tenho apenas uma pessoa para fazer algum ajuste necessário. Consigo ter uma produção contínua, a manutenção é menor porque não existe vagoneta e não tem desgaste, pois fica menos úmido o ferro e não cria ferrugem”.

Apesar de todas as características favoráveis, os fornecedores são unânimes em dizer que a viabilidade técnica do equipamento deve ser analisada primeiro. “O principal fator que prejudica a secagem neste equipamento, como em qualquer outro processo de secagem, é o índice de retração, que quanto menor, melhor. Outro pré-requisito é o comprimento do galpão que deverá ser em torno de 120 metros”, pontua o diretor da Natreb. O desenhista projetista da Enaplic, Thiago Vieira, destaca que “qualquer cerâmica poderá utilizar o equipamento, desde que os seus produtos atinjam umidade de entrada de aproximadamente 22% e de saída de 2 a 6%”.

O equipamento ainda é uma novidade no país, o que pede atenção a diversos fatores. “Este sistema é novo no Brasil e terá que ser ajustado ao tipo de argila encontrado aqui, há ainda algumas características especiais como regulagens e adequações. É sim muito bom e confiável, mas tem suas limitações e não poderá ser implantado em todas as cerâmicas, devem-se fazer análises e verificações para determinar caso a caso qual a viabilidade deste sistema”, ressalta o diretor comercial da Raça Máquinas, Elcio Mateus. Já o diretor da Projectos recomenda que seja feita antes uma avaliação pelos técnicos da sua empresa.

O consultor técnico da Anicer, Antônio Carlos Pimenta, ressalta ainda que deve ser verificada a viabilidade econômica antes de adquirir o equipamento, destacando que o secador de talisca é uma ótima alternativa para cerâmicas que não possuem um sistema de secagem artificial. “A alta velocidade e eficiência desta secagem, aliada à razoável simplicidade do sistema e mínima utilização de mão de obra, são excelentes atrativos, mas o investimento deve ser justificado mediante a economia de médio e longo prazo. Empresas com limitações em seus layouts ou que já disponham de secadores artificiais mecanizados, dificilmente optarão por este secador”, destaca.

De acordo com o especialista da Enaplic, uma das preocupações do empresário ao investir em um secador é de como gerar o calor e como é feita a sua distribuição no interior do equipamento. “Porém, o secador rápido de talisca possui uma eficiente fornalha pirolítica, usando como combustível o cavaco de madeira, e através de ventiladores de insuflamento e exaustão o calor gerado é agora posto em contato com a carga e com velocidade apropriada a permitir uma secagem homogênea e gradativa desta carga”. O diretor da Zucco, Adriano Zucco, destaca outras dúvidas dos clientes: “A maior preocupação do cliente é se a sua argila se adequa a este tipo de secagem. Outra preocupação é contratar um fabricante de confiança para a construção deste equipamento”.Já com o equipamento em funcionamento, Ramos buscou auxílio junto ao projeto Cerâmica Sustentável é + Vida, uma iniciativa da Anicer em parceria com o Sebrae, a fim de analisar a possibilidade na redução do ciclo de secagem, até então em torno de 1h20min, e interessado em obter o certificado de qualificação no Programa Setorial da Qualidade de Telhas Cerâmicas. “Na oportunidade, fizemos estudo de matérias-primas adequando-as para o tipo de secagem, ou seja, em ciclo rápido, e inserimos dispositivos de medição no início do secador (termohigrometros), a fim de aumentarmos a umidade na recepção das peças no equipamento. Estes ajustes de matérias-primas e equipamentos nos proporcionaram uma redução de 20 min. No ciclo de secagem, em números, significou um aumento de 15% na produtividade do equipamento”, explica Isac Medeiros, responsável pela consultoria na empresa.

De acordo com o especialista da Enaplic, uma das preocupações do empresário ao investir em um secador é de como gerar o calor e como é feita a sua distribuição no interior do equipamento. “Porém, o secador rápido de talisca possui uma eficiente fornalha pirolítica, usando como combustível o cavaco de madeira, e através de ventiladores de insuflamento e exaustão o calor gerado é agora posto em contato com a carga e com velocidade apropriada a permitir uma secagem homogênea e gradativa desta carga”.

Apesar de ser um projeto relativamente caro, podendo ficar em torno de 900 mil a 2 milhões, de acordo com informações de alguns fornecedores, o consultor Medeiros destaca o retorno em produtividade. “Comparado com outros sistemas de secagem convencionais (secadores contínuos e semicontínuo de vagonetas) o secador de talisca é muito mais viável”. O equipamento está em processo final de construção na Cerâmica J S Cunha, de Jucáci (CE). Atualmente, a indústria leva em torno de quatro dias para secar no galpão e de 10 horas para secar ao sol. A retração da economia e a forte concorrência foram determinantes para o proprietário Edson Riva, optar pelo Secador de Talisca. “Devido à economia e com tanta concorrência, ficou mais difícil trabalhar. Então, para diminuir custo, como a redução da mão de obra, fiz esse investimento para melhorar e chegar no mercado”. Para passar da secagem natural para a artificial, Riva fez o estudo da argila como recomendado. “A argila tem uma retração de menos 5%, se for a mais, precisará de mais trabalho, melhorar o secador, para evitar as trincas. O secador não é indicado para todo tipo de argila, precisei levar para o laboratório e fazer análise da argila”, pontua.

Em tempos de crise energética e altas tarifas, o novo equipamento poderá sim, em primeiro momento, aumentar o custo com energia para as indústrias cerâmicas, mas alguns fatores devem ser analisados, tanto em comparação à secagem natural quanto as outras artificiais disponíveis no mercado. “O consumo elétrico do secador rápido é maior em comparação ao secador semicontínuo e estático, no entanto, o mesmo só trabalha durante as 8 horas e não 24 como nos outros secadores, portanto o montante final será reduzido”, destaca o diretor da Raça Máquinas. Já Agnaldo Bertan diz que, apesar do secador de talisca consumir energia elétrica que a secagem natural não consome, o equipamento traz outras economias. “Economizará energia no tempo trabalhado das demais máquinas da produção, pois eliminará as perdas de produção que ocorrem com um produto que não secou corretamente ao natural. E perdas de produção sim são os principais vilões que devem ser combatidos para economizar energia”.

Em resumo, tudo depende de uma avaliação de custo-benefício, como explica Pimenta: “A secagem natural é dependente de variações climáticas e, na maioria das vezes, está associada à intensa utilização de mão de obra e utilização de amplos espaços. Ou seja, apesar de pouco se utilizar energia elétrica, a secagem natural é mais lenta e muitas vezes muito deficiente. Como resultado, além do excessivo manuseio, muitas queimas receberão produtos ainda úmidos. Em determinadas épocas do ano, com alta umidade relativa do ar e baixas temperaturas, a secagem natural é ainda mais lenta, provocando diminuição no volume de produção da cerâmica”. Por isso, o consultor explica que entre a secagem natural e a artificial, existem diversas alternativas e o ceramista deve fazer uma profunda análise da viabilidade econômica. “Sair de uma secagem natural para um secador rápido de talisca, pode significar uma intensa redução no tempo de secagem, eficiência – com produtos bem secos e grande redução no número de operários envolvidos nesta etapa. Assim, o investimento tem que ser analisado com o retorno que proporcionará. Além do investimento há o custo de manutenção, depreciação e energia utilizada”.