Durabilidade histórica e eficiência através do tubo cerâmico

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Indústrias de destaque mantêm a fabricação do produto de argila

Por Aline Moura

Os grandes benefícios oferecidos pelos tubos cerâmicos fizeram com que sua utilização fosse uma segura escolha para redes de saneamento básico durante muitas décadas. Apesar do mercado brasileiro para tubos e conexões cerâmicas estar desaquecido, poucas, porém importantes e tradicionais indústrias do setor de cerâmica vermelha fabricam o material confiando nas características imbatíveis dos tubos cerâmicos, o que está inteiramente ligado à saúde e ao bem-estar da população.

Segundo a história da civilização universal, estes materiais foram utilizados há 4.000 anos a.C. em esgotamento sanitário, abastecimento d’água, drenagem e irrigação, e, através de registros, tais obras ainda são existentes. Os tubos cerâmicos são os materiais preferidos em países europeus para drenagem e saneamento, devido à confiabilidade na qualidade e durabilidade do produto. No Brasil, o segmento de tubo cerâmico abastece, principalmente, construções do setor público, o que faz com que o mercado do produto seja definido por licitações e pregões.

Produzido a partir dos quatro elementos da natureza – terra (argila), água, fogo e ar –, o material cerâmico é 100% natural. Por não agredir o meio ambiente, o tubo cerâmico é um produto ecológico quando comparado aos tubos fabricados com outros materiais. Conhecido por sua longevidade, não sofre deformações por ser inerte e resistente à abrasão e corrosão, não sendo atacado por micro-organismos, o que o torna mais eficiente para proteger a terra e os lençóis freáticos dos resíduos de saneamento. “O tubo cerâmico tem durabilidade superior a 100 anos, exemplo disso é a rede de esgoto da cidade de Santos, instalada há mais de um século com o produto, funcionando até hoje”, disse o diretor da área de tubos cerâmicos da Anicer e diretor da Cerâmica Santa Maria, Luciano Cardoso Furtado.

Deste modo, os tubos cerâmicos atendem aos principais fatores que devem ser observados para a escolha do material a ser utilizado nas tubulações de drenagem e esgoto quando se pensa em saúde pública e benefícios a longo prazo. Porém, no Brasil, devido ao aspecto econômico, o mercado está absorvendo tubos de outros materiais, como o plástico, no lugar do produto de argila. De acordo com o 1º Vice-presidente da Anicer e diretor presidente da Cerâmica Parapuan, Ralph Luiz Perrupato, o tubo de PVC era mais caro em relação ao de cerâmica, mas o mercado de plástico conseguiu diminuir a diferença. “No entanto, a durabilidade prevista para o PVC é de apenas 30 anos. Isto para obra pública é muito pouco. Na Alemanha, a durabilidade mínima para uma obra pública é de 100 anos e para se usar o tubo de PVC é exigido fazer uma envoltória de areia, o que aumenta sobremaneira os custos do tubo plástico assentado”, explica. Outra justificativa importante na escolha do tubo cerâmico é com relação ao impacto no meio ambiente. Alguns países fazem a opção pelo tubo cerâmico por ser um material mais ecológico que os concorrentes.

De acordo com Perrupato, “o mercado nacional de tubos cerâmicos conta com apenas três empresas atualmente. Mas nem sempre foi assim”. A criação do Planasa – Plano Nacional de Saneamento do Brasil pelo Governo Federal, em 1968 , que definia metas a serem alcançadas pelo país na área de saneamento e destinava recursos financeiros para a consecução dessa política, e o surgimento de importantes companhias estaduais de saneamento, como Sabesp, Copasa, Cedae e Embasa, a partir de 1973, fomentaram as indústrias de tubos cerâmicos, havendo cerca de 30 delas entre as décadas de 1960 e 90.

Entre as empresas que ainda permanecem com a atividade de tubo cerâmico, está o grupo Parapuan. Fundada em 1963, em Pará de Minas (MG), com a finalidade de produzir tubos para saneamento básico, a indústria fabrica atualmente cerca de 550 toneladas de tubo/mês e possui 85 colaboradores. “Entre os anos 80 e 90, tínhamos uma produção próxima a três mil toneladas por mês e eram 200 funcionários”, lembra Ralph Perrupato, que é também presidente do Sindicer/MG, cuja família atua no ramo de cerâmica vermelha desde 1947. A empresa mineira ampliou sua linha de produtos, passando a trabalhar ao mesmo tempo com tijolos, blocos estruturais, pisos e revestimento, e atende todo o mercado nacional.

Outra medida foi o investimento em tecnologia. “Nosso diferencial é uma máquina desenvolvida por uma empresa alemã (Rieterwerk), própria para tubo cerâmico, utilizada por todos os fabricantes europeus, em que a extrusão é feita na vertical e o acabamento do tubo é automatizado”, diz Perrupato, que completa: “A gente continua levando nossas reivindicações para as companhias estaduais de saneamento, que são hoje os maiores consumidores para esgoto de rua. Fazemos trabalhos junto aos engenheiros mostrando os benefícios do tubo cerâmico, mas a dificuldade é que os produtores de tubos de PVC usam a resina de um único fornecedor, constituindo um lobby e obtendo um preço menor, influenciando na escolha dos materiais utilizados nos novos projetos”.

Fundada em 1938, a Cerâmica Santa Maria, de Campo Belo, Minas Gerais, é uma das mais antigas cerâmicas em atuação na região e segue com uma produção mensal de 400 toneladas de tubos cerâmicos, tendo 40 dos 75 funcionários operando na área de tubos. “A indústria começou com a fabricação de blocos, seguida de tubos, e por volta da década de 60 chegou a ter um direcionamento de quase 100% da produção voltada para o produto”, conta Luciano Furtado, diretor desde 1989. A família assumiu a empresa na década de 70. Além do tubo, a Cerâmica Santa Maria trabalha com conexões, blocos cerâmicos para vedação e laje, e conta com forno Abóboda.

Com a atividade de tubos cerâmicos, a Santa Maria já atendeu o Brasil todo, mas hoje concentra-se basicamente na região Sudeste. “Nós, do ramo, hoje temos como diferencial o próprio produto, há poucas diferenças entre as empresas de tubos. O encaixe é feito com junta elástica, o que dá agilidade no saneamento e favorece a estanqueidade. O mercado está muito estagnado, e depende das atuações dos órgãos do Governo. O saneamento é público, há poucas empresas privadas no ramo (duas apenas no Rio). Depende então da verba do Governo, que tem investido pouco na área de saneamento como um todo, além de sofrermos com a concorrência”, avalia Luciano Furtado.

Com o mercado desfavorável, muitas empresas encerraram suas atividades, como é o caso da Cerâmica Gravatá, fundada em 1905, no município de Gravatá (PE), parando de produzir em 1996. “A fundação ocorreu em atenção aos incentivos dos Governos

Federal e Estadual para erradicar a cólera. Na época, procuraram meu avô para que abrissem a indústria para produção de tubos cerâmicos”, conta Walter Denis de Barros Dias, ceramista, arquiteto e urbanista e diretor presidente da Cerâmica Gravatá. A principal ampliação da empresa aconteceu entre 1978 e 1980, aumentando sua produção de 1.500 para 9.000 Toneladas/ano. Segundo Walter Denis, a Cerâmica Gravatá foi algumas vezes premiada a nível nacional. Em 2000, foi selecionada e indicada para receber o título de Quality Leader em Cerâmica, no Brasil, pela International Quality Service. No que concerne à qualidade, todos os materiais comercializados ao longo de sua existência encontram-se perfeitos e em operação em obras de esgotamento sanitário e outras, nestas regiões e na África.

Na cidade de Tambaú (SP), foi fundada em 1992 a Cerâmica Tambaú, com forte atuação no Estado de São Paulo. Ainda em operação, atualmente a empresa produz 480 toneladas/mês de tubos cerâmicos e conta com 39 funcionários. “O mercado vem sofrendo forte redução nos últimos cinco anos, mas nossa empresa tem forte trabalho de divulgação das vantagens da utilização do tubo cerâmico em relação a outros produtos”, pontua o diretor José Geraldo Dezotti. A Cerâmica Tambaú trabalha somente com tubos e conexões cerâmicas.

Além da história de uma atividade industrial, ao discorrer sobre tubos cerâmicos, fala-se a cerca de um serviço público de fundamental importância para a população. “Nos países desenvolvidos, os tubos e conexões cerâmicos vitrificados foram os principias responsáveis pela erradicação das doenças infectocontagiosas e parasitárias. O tubo cerâmico está ligado a saneamento básico, a saúde e a medicina preventiva da população”, destaca Walter Denis. Considerando que o material PVC tem uma vida útil de cerca de 30 anos, fica a pergunta: “Como estarão as instalações com o material plástico daqui a alguns anos?”, finaliza Perrupato