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Iza Valadão

Izabella Valadão é Engenheira Civil, com pós-doutorado em resíduos sólidos, pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e CNR/Pisa-Itália. Mestre e Doutora em Engenharia Metalúrgica, pela UFF com ênfase em Simulação de Fenômenos e Processos Ambientais. Na Universidade Veiga de Almeida (UVA) é Docente do Mestrado Profissional em Ciências do Meio Ambiente e do Curso de Engenharia Civil. Na UFF é Professora Adjunta desde 2013, no Departamento de Engenharia Agrícola e Meio Ambiente (TER). Em 15 anos de experiência docente, atua na Pesquisa Acadêmica, com orientação de projetos de iniciação científica e de extensão, tendo diversos projetos de pesquisa nacionais e internacionais financiados por agência de fomento. Já foi membro do Comitê de Ética, do Comitê Científico e Assessora de Pesquisa. Foi Assessora da Secretaria de Meio Ambiente de Volta Redonda e é consultora ad hoc da Fundação Nacional de Desenvolvimento do Ensino Superior Particular – Funadesp e do Programa É de Casa, da Rede Globo.

Por Manu Souza | Imagens: Divulgação

Na sua opinião, o que é indispensável em um projeto?

Planejamento, acima de tudo.

De acordo com a sua experiência, quais as maiores vantagens e desafios em trabalhar com blocos cerâmicos?

A vantagem é que o sistema construtivo com o bloco cerâmico é o mais utilizado no Brasil e por isso a maioria da mão de obra prefere utilizá-lo. Os Desafios do bloco cerâmico são as padronizações e a constante melhoria do seu controle de qualidade.

E no caso da telha, quais as vantagens e os desafios?

A vantagem é a ampla quantidade de mão de obra qualificada e o desafio é concorrer com o número crescente de telhas e sua diversidade.

Como é o mercado em geral para os materiais cerâmicos? Tem algum campo em que você observa um maior crescimento?

O uso do bloco estrutural tem crescido nos últimos anos, principalmente em função da diminuição da geração de entulho no canteiro de obras, já que seu uso praticamente elimina a necessidade de recorte nas paredes para a instalação da rede elétrica e da rede hidráulica.

Em relação a questão da escolha de materiais que serão usados na construção, como se dá a troca de informações entre a execução da obra e o desenvolvimento do projeto?

O material a ser utilizado em uma obra precisa, acima de tudo, ter qualidade e isso vai desde a resistência do produto até a regularidade e padronização de suas dimensões. Claro que outras características são levadas em conta, como valor e disponibilidade no mercado.

Na hora de escolher os materiais que usará em um projeto, o que você levaria em consideração?

O conforto proporcionado pelo uso do material e a sua ligação com a sustentabilidade da construção são fundamentais para mim. E a qualidade e o preço desse material precisam de atenção especial, já que incidem diretamente no planejamento financeiro da obra.

Quando os blocos cerâmicos estruturais, que também são modulares, forem mais difundidos e divulgados para toda a população, com certeza eles serão os mais utilizados, principalmente para as autoconstruções que consomem mais da metade dos produtos produzidos pelo setor.

O que faria você utilizar materiais cerâmicos?

O baixo custo, a boa qualidade e a disponibilidade em encontrar mão de obra qualificada para utilizá-lo.

O que diria aos fabricantes de blocos e telhas cerâmicas para melhorar os produtos ofertados hoje no mercado?

O controle da qualidade e a resistência final do produto são itens indispensáveis. A padronização de todos os produtos ofertados em todo território nacional também precisa ser cuidada com carinho e atenção.

Na engenharia quais precauções devem ser tomadas antes do início da construção?

Após finalizado o projeto é importante programar a compra de cada material, com especial atenção para sua qualidade, quantidade certa e principalmente, saber em qual etapa da obra deve ser realizada a compra e o recebimento de cada item. Esses cuidados evitam o desperdício de material.

Qual a sua opinião sobre alvenaria estrutural com blocos cerâmicos?

Acho que é o futuro da cerâmica no Brasil. O bloco cerâmico é o material mais utilizado nas construções brasileiras e os seus concorrentes se destacam por proporcionar uma construção modular. Quando os blocos cerâmicos estruturais, que também são modulares, forem mais difundidos e divulgados para toda a população, com certeza eles serão os mais utilizados, principalmente para as autoconstruções que consomem mais da metade dos produtos produzidos pelo setor.

O que acha da alvenaria com blocos de concreto?

Acho que variam muito de qualidade, em função do cimento usado e do local de fabricação. A falta de padronização no padrão de qualidade desse produto é sua maior desvantagem, na minha opinião. Sem contar que o cimento absorve muito o calor e torna a construção mais quente, necessitando de resfriamento forçado.

Entre os dois sistemas, qual você escolheria para executar uma obra? Por quê?

Escolheria os blocos cerâmicos estruturais, pela facilidade e rapidez no processo de construção modular. E também em função da diminuição na geração do entulho da obra.

Você acha que as grandes empresas levam em consideração a sustentabilidade da obra, na hora da escolha dos produtos que irão compor a construção?

Levam sim, porque hoje incide no bolso. Por exemplo, todo entulho gerado na obra precisa ser destinado corretamente, com comprovação através de documentação. Isso incide diretamente no custo de execução da obra. Quando uma obra pode ser executada de forma mais ágil e com menor geração de resíduo, as grandes empresas conseguem quantificar quanto deixam de gastar e isso influencia na escolha final do produto a ser utilizado. Outra questão é o valor agregado de uma obra que utiliza materiais sustentáveis, hoje é “chique” ser verde e as pessoas pagam mais por isso. As construtoras estão de olho nessa fatia da população, pode ter certeza!

(…) Hoje é “chique” ser verde e as pessoas pagam mais por isso. As construtoras estão de olho nessa fatia da população, pode ter certeza!

Em um projeto voltado para habitação social, levando em consideração as necessidades de uma obra rápida, com bom desempenho térmico, durável e de futuras manutenções baratas, que tipo de material você usaria? Por quê?

O bloco cerâmico, já que ele é inclusive o que está mais a disposição da população e já tem bastante mão de obra que sabe utilizá-lo. O bloco cerâmico estrutural é ainda mais indicado, porém não é encontrado com tanta disponibilidade nas lojas de materiais de construção do Brasil.

Apesar de serem construções simples e com pequenos orçamentos, é possível agregar sustentabilidade nas habitações de interesse social?

Claro que sim! Além da escolha do material correto é fundamental usar a criatividade para fazer o projeto e planejar a execução da obra.

Você acha que a contratação de materiais e serviços pelo menor preço pode comprometer a sustentabilidade da construção?

Nem sempre. Se você escolher materiais caros e contratar uma mão de obra sem qualificação, terá problemas de execução e isso compromete a qualidade da obra e a sustentabilidade da construção. O segredo é planejamento. É possível utilizar um material de menor custo, desde que sua utilização seja feita de forma adequada, incidindo no prazo, qualidade e na sustentabilidade da obra.

O que você irá abordar em sua palestra no 48º Encontro Nacional?

Vou abordar algumas soluções sustentáveis para a construção, com a apresentação de cases que deram certo em todo o Brasil. Muita gente acha que a sustentabilidade está relacionada apenas ao meio ambiente, mais ela é muito mais abrangente que isso. Se uma obra pode ser executada de forma mais rápida, ela é sustentável. Esses e outros itens serão abordados no nosso bate papo, em outubro.