Lodo que vira bloco

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Meio Ambiente

Lodo que vira bloco

Estudo possibilitou incorporação de lodo na fabricação de blocos cerâmicos em empresa de Alagoas

Por Manu Souza | Imagens: Divulgação

A Agreste Saneamento, que presta serviços de captação e tratamento de água em municípios de Alagoas, utiliza desde 2014 os resíduos gerados desse tratamento para fabricação de blocos cerâmicos.

O processo se dá após o aproveitamento do lodo resultante da floculação, no qual ocorre a aglutinação das impurezas durante o tratamento da água. Após a decantação, as partículas aglutinadas vão para o fundo dos tanques por gravidade e a água separa-se do lodo. Posteriormente, o lodo é armazenado em bolsas para que ocorra a desidratação.

Para o diretor da Agreste Saneamento, Guilherme Dias, o reaproveitamento deste rejeito permite a diminuição dos impactos ambientais que seriam gerados em seu descarte. “A solução permite a utilização do lodo proveniente do tratamento de água. Material que antes poderia ser descartado em aterros sanitários, por exemplo. O lodo é composto por partículas orgânicas e inorgânicas, além de insumos utilizados no processo de tratamento. Na Estação de Tratamento de Água (ETA) Arapiraca, onde o projeto foi implantado, são gerados entre 40 e 50 m³ de lodo por mês. Desde o início da iniciativa, já foram acumulados 3,4 mil m³ de lodo que permitiram a fabricação de cerca de 5 milhões de tijolos”.

Foram realizados diversos testes em laboratório que comprovaram a qualidade e a aplicabilidade da submatéria-prima para a produção do bloco cerâmico. O procedimento foi acompanhado pela equipe do setor de Qualidade, Segurança, Meio Ambiente e Saúde da Agreste Saneamento, pela Phyto Consultoria em Engenharia e Meio Ambiente e pelo Instituto do Meio Ambiente de Alagoas – IMA, que destacou a iniciativa como um marco no estado. O resíduo entregue para a Cerâmica atende à NBR 10004:2014, podendo ser utilizado para este fim sem risco algum.

Os blocos, que são fabricados pela Cerâmica Arapiraca, em Alagoas, já são aplicados em diversas obras da construção civil daquela região. Todas as etapas de desenvolvimento das peças foram acompanhas pela Agreste Saneamento. “Encontramos uma Cerâmica que já tinha um foco em sustentabilidade com qualificação e o licenciamento ambiental para o adequado recebimento e manejo do material. Esta empresa parceira já utilizava para a fabricação de suas peças cerâmicas cascas de coco e resíduos de indústrias moveleiras”.

Dias explica ainda que, o que fazer com esse lodo é um desafio muito grande enfrentado pelas concessionárias. “As vantagens na incorporação do lodo de ETA para fabricação dos tijolos são inúmeras, entre elas, o aumento na vida útil das jazidas de argila e a redução de áreas desmatadas para exploração de jazidas, economia de consumo de água para produção de tijolos e a qualificação e o licenciamento ambiental de cerâmicas para o adequado recebimento e manejo desse material, fomentando a economia da região. Também estamos nos adequando à Política Nacional de Resíduos Sólidos”.

A Revista da Anicer entrevistou o diretor da Agreste Saneamento, que nos contou o passo a passo de todo o processo enfrentado pelos agentes que desenvolvem este bloco. Confira a entrevista na íntegra:

Após reaproveitado, este lodo é inertizado? Foi realizado algum estudo para verificação de eficiência desta inertização?

O lodo gerado pela ETA foi analisado laboratorialmente e classificado pelo Inmetro como classe IIB-Resíduo Inerte de acordo com a NBR 10004:2014.

Já testaram a aplicação na fabricação de telhas?

Sim, o material já foi aplicado na fabricação de tijolos, lajotas e telhas cerâmicas.

Qual o grande benefício, para o meio ambiente, deste reaproveitamento do rejeito?

São várias as vantagens, como o aumento na vida útil das jazidas de argila, a redução de áreas desmatadas para exploração de jazidas e economia de consumo de água para produção de tijolos. O ciclo dos resíduos gerados durante o tratamento da água fica fechado, sem gerar impactos ambientais. Até a água proveniente da desidratação do lodo retorna para o processo de tratamento na ETA.

Como surgiu a ideia e por que uma indústria cerâmica?

Com a construção da nova ETA Arapicara, em 2014, o destino final do lodo foi um desafio enfrentado. Uma alternativa seria o descarte em aterro sanitário, sendo o mais próximo localizado em Pernambuco, a 340 km de distância. Desta forma, a Agreste Saneamento realizou diversos estudos e optou pela utilização do lodo na fabricação do tijolo, solução sem impacto ambiental e que também reduziria os custos com o possível descarte em aterro. Outra preocupação da companhia foi em fomentar a economia local, por isso a escolha da olaria da própria cidade de Arapicara.

Como surgiu o interesse da cerâmica em utilizar o rejeito?

A utilização do lodo foi uma proposta da Agreste Saneamento, que foi bem aceita pela Cerâmica local. Já que para a fábrica, o recebimento do lodo também foi uma vantagem, com redução de custos com exploração de jazidas (escavação, carga e transporte), desmatamento de novas áreas e posterior reflorestamento.

As construções com este bloco cerâmico não terão problemas futuros?

Respeitadas as especificações técnicas adotadas para blocos cerâmicos comuns, as construções não terão qualquer problema.