Intervalo #34: Carta de Esclarecimento

Anicer enviou nota à TV Globo após a veiculação de informações inverídicas sobre os produtos cerâmicos

Todos os setores da Anicer se reuniram no dia 2 de março para discutir providências e ações estratégicas em resposta às comparações inadequadas sobre produtos do sistema construtivo, veiculadas no programa É de Casa, da Rede Globo, exibido no dia 27 de fevereiro.

A primeira medida tomada pela Associação foi a divulgação de uma carta de esclarecimento, na qual são detalhados os erros cometidos pelo designer Fábio Basso ao fazer comparações entre blocos cerâmicos e blocos de concreto.

A Anicer também iniciou uma campanha nas mídias sociais para informar os consumidores sobre as vantagens dos produtos cerâmicos – custo, tempo de execução da obra, funcionalidade, menor impacto ambiental, entre outras –, além de detalhar as principais diferenças em comparação aos concorrentes em concreto. Confira a íntegra da carta:

A Associação Nacional da Indústria da Cerâmica Vermelha (Anicer), instituição representativa dos fabricantes de cerâmica vermelha, recebeu com certa surpresa as informações expostas durante a exibição do programa É de Casa, da Rede Globo, exibido na manhã do dia 27 de fevereiro de 2016. Em decorrência dos fatos, esclarecemos que:

  • A comparação do bloco estrutural de concreto com o bloco de vedação cerâmico é equivocada, pois são blocos que possuem funções distintas. O designer classificou o bloco cerâmico por furos, quando na verdade deveria ter sido feita entre blocos com mesmas dimensões e funções.
  • A argamassa para assentamento de blocos estruturais, de concreto ou cerâmicos, é exatamente a mesma.
  • A velocidade de execução do bloco cerâmico é muito maior durante toda a operacionalização porque ele é até 50% mais leve. Além disso, economiza energia no transporte das fábricas para os canteiros de obras, nos elevadores dos canteiros, como também no decréscimo do custo das fundações.
  • O acabamento é uma questão de estética do ambiente. Também existem blocos e tijolos cerâmicos para utilização aparente, além de uma vasta gama de produtos cerâmicos disponíveis no mercado.
  • Com relação ao prumo da alvenaria, também não há diferença entre os produtos, pois o fundamental é que ambos sigam a norma do produto determinada pela ABNT. Se o produto, independente de ser cerâmico ou concreto, não estiver dentro da tolerância de planeza estabelecido pela norma, significa que está fora do padrão, ou seja, é inadequado.

A Anicer é mantenedora dos Programas Setoriais da Qualidade (PSQs) de Blocos e Telhas cerâmicas, que integram o Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade do Habitat (PBQP-H), do governo federal. O PSQ qualifica os produtos que estão em conformidade com a norma da ABNT NBR 15.270, sendo que a indústria da cerâmica vermelha é o setor da construção civil com o maior número de empresas qualificadas pelo PSQ: 227 fábricas de blocos e telhas cerâmicas, além de outras 40 que estão com o processo de qualificação em andamento. Ressaltamos que o cliente deve exigir que o produto esteja em conformidade com a norma ABNT NBR 15.270, independente da empresa estar qualificada.

Segundo a Avaliação do Ciclo de Vida dos Produtos Cerâmicos – ACV comparativa, realizada pela Quantis, empresa canadense de consultoria especializada em ACV, os produtos cerâmicos causam menos impacto ambiental do que os produtos de concreto, com relação às mudanças climáticas, ao esgotamento dos recursos naturais e à utilização de água. A Avaliação do Ciclo de Vida (ACV) é uma ferramenta padronizada pela ISO 14040, que fornece uma base científica fundamental para a avaliação do impacto ambiental de um produto. O estudo avalia a carga ambiental associada ao produto, levando em conta todas as etapas de seu ciclo de vida, desde a extração das matérias-primas para a fabricação do produto à extensão de sua vida útil, até o descarte final. A ACV foi realizada conforme os procedimentos internacionais organizados pela International Life Cycle Partnerships for a Sustainable World (UNEP/SETAC) e pela International Organization for Standardization (ISO). No Brasil, as normas relacionadas a ACV estão contempladas na ABNT NBR ISO 14040: 2001 e na ABNT NBR ISO 14044. Esta ferramenta compreende fundamentos para o desenvolvimento e a melhoria de produtos, para o marketing ambiental e para ajudar o consumidor na escolha entre os diferentes tipos de produtos.

Hoje, a indústria de concreto possui altas emissões de CO2 na reação química ou calcinação, percorre distâncias maiores para distribuição e se utiliza de combustíveis fósseis para a produção de cimento.

Em contrapartida, a Indústria cerâmica utiliza crescentemente biomassas alternativas e contribui na queima de resíduos orgânicos de outras indústrias, principalmente advindos do agronegócio e da indústria moveleira, evitando a emissão de gás metano, com potencial de aquecimento atmosférico 21 vezes maior que o CO2. Os resíduos da indústria cerâmica são considerados pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente – Conama (Resolução nº 307 / 2002) como CLASSE A, ou seja, resíduos reutilizáveis ou recicláveis. Os produtos cerâmicos para uso na construção civil são ideais para edificações realmente sustentáveis, pois possibilitam grande economia na energia utilizada para o resfriamento (ar condicionado) das edificações, devidos as suas excelentes propriedades de isolamento térmico.

Diante de tudo o que foi exposto, solicitamos aos diretores, produtores e apresentadores deste programa, que seja dada a devida atenção ao tema, e que da próxima vez, as informações sejam melhor apuradas para evitar a divulgação de inverdades aos telespectadores.

Anicer Responde

O episódio do programa É de Casa acendeu uma chama no setor. Ceramistas de diversas partes do país ficaram em polvorosa diante do que foi exibido na TV Globo. Não é pra menos. Um profissional de design, que não possui formação na área de construção civil, emitiu opiniões em rede nacional sobre os produtos cerâmicos, em detrimento dos concorrentes em concreto, sem nenhuma comprovação técnica ou científica. Mais grave, informações inverídicas. “A comparação foi muito mal feita. Aquilo ali mostra um produto cimentício e um produto cerâmico que tem funções completamente diferentes. Apesar de ambos servirem para fazer alvenaria, mas cada um tem sua aplicação, muito distinta uma da outra”, questionou o presidente da Anicer, Cesar Gonçalves. “Se por acaso aquela mesma construção tivesse sido feita, e poderia ter sido feita com bloco cerâmico, o valor dela teria sido muito mais baixo. Ou seja, aquilo que se vangloriou ali, dizendo que foi uma construção barata, R$ 150 mil, na verdade foi uma construção cara”, acrescentou Gonçalves.

A reação dos empresários do setor foi imediata e da Anicer também. Na segunda-feira (29/02) que sucedeu o programa, todos os profissionais da Associação analisaram e discutiram o conteúdo do vídeo para desenvolver e articular providências sobre o ocorrido. A primeira medida foi a elaboração desta carta de esclarecimento, a qual foi divulgada no site e redes sociais da Anicer, além de ser enviada à produção do programa. Contudo, o direito de resposta infelizmente ainda é uma negociação difícil com as empresas de comunicação. Há uma lei que foi sancionada no ano passado, à qual a defesa do ex-presidente Lula recentemente recorreu para fazer um pedido à TV Globo no âmbito jurídico – como foi citado nas conversas dos grupos de ceramistas. No entanto, a falta de controle e fiscalização ainda não garante a aplicabilidade da lei, assegurando que os veículos concedam o espaço diretamente proporcional ao agravo. A Anicer fez a sua parte: contatou a produção, enviou a carta de esclarecimento e buscou orientação jurídica. Esta, por sua vez, informou que não há garantia de uma decisão favorável na justiça e, mesmo que haja, pode demorar muito tempo, quando não faria mais sentido resgatar a história, já que incorreríamos na publicização dessa matéria esdrúxula.

Mas a Anicer não parou por aí. Dentro do plano de gerenciamento de situações de crise, fundamentado nos conceitos mais atuais da área, a equipe de comunicação da entidade pensou estratégias mais rentáveis e imediatas, as quais podem ter um alcance maior, mais rápido e objetivo no público-alvo da entidade. Foi iniciada uma campanha nas redes sociais da Anicer, com vídeos e postagens sobre as vantagens dos produtos cerâmicos – com destaque para as ecológicas e o projeto Cerâmica Sustentável é + Vida. Contudo, esse é um trabalho que não pode ser feito sozinho. Do mesmo jeito que a notícia sobre o programa correu em grupos de Whatsapp e outras mídias, é fundamental o apoio dos ceramistas para alcançar uma divulgação amplificada de conteúdos favoráveis ao setor. Não se consegue o efeito das campanhas em mídias sociais, cuja abrangência é cada vez mais comprovada pelos especialistas em comunicação empresarial e marketing, sozinho. É preciso envolvimento, compartilhamento e interação. E essa é uma responsabilidade que deve ser dividida com todos os ceramistas, associados ou não, afinal, é o produto cerâmico que está em jogo.

Por fim, é importante ressaltar que toda tempestade anuncia uma bonança. A partir deste episódio, a entidade também tirou algumas lições e pontos positivos. Essa cobrança demonstrou que os ceramistas enxergam a entidade como a principal porta-voz do setor. E é justamente por isso que a Anicer precisa de seus colaboradores. De mais colaboradores. Uma Associação só é forte quando a base é forte. E essa base são os ceramistas. Ao longo de mais de duas décadas, a Anicer vem construindo uma história de protagonismo do setor da cerâmica vermelha no cenário econômico nacional. Alcançar a marca de 45 edições do Encontro Nacional da Indústria de Cerâmica Vermelha e dezenove da Exposição Internacional de Máquinas, Equipamentos, Automotivos, Serviços e Insumos para a Indústria Cerâmica – ExpoAnicer é uma prova de consistência e longevidade. Isso não seria possível sem os fornecedores, parceiros, funcionários e, claro, os associados. Esses dois eventos, as missões internacionais, os Programas Setoriais da Qualidade (PSQs), a Avaliação de Ciclo de Vida, todos os projetos e demais ações realizadas durante os últimos 24 anos, representam o tamanho da Anicer. É necessário reconhecer o valor de todas essas conquistas, sem desconsiderar que é sempre possível fazer mais. Porém, para que esse “mais” aconteça tem um custo, que será bem menos penoso se for compartilhado.