Intervalo #34: Afinal, o que é associativismo?

Economista aposta na cooperação para retomar o caminho do desenvolvimento

Qual a importância da sindicalização? Como isso pode influenciar na minha empresa? Quais as vantagens? A lista de perguntas que surgem quando o assunto é a sindicalização não tem fim. Apesar de ser uma ideia bastante antiga, ainda há muito desconhecimento e resistência ao associativismo por parte do empresariado brasileiro. A prática de associar interesses comuns a partir de iniciativas de cooperação já vem de longa data.

No entanto, somente a partir dos anos 1990 as discussões ganharam consistência, através de uma perspectiva do desenvolvimento local e social, sob novas concepções e ideias que emergiram da concepção de sustentabilidade. É por meio da sindicalização patronal, ou seja, associativismo empresarial, que as classes representadas ganham força em busca de seus direitos e na luta por melhorias para cada setor, principalmente, nos períodos mais difíceis pelos quais a economia do país atravessa, como o cenário atual.

A Anicer representa o setor da cerâmica vermelha por meio dos sindicatos, cooperativas, associações e das indústrias filiadas. Os sindicalizados ganham não somente a representatividade, mas também, o apoio, por meio da associação, na defesa dos legítimos interesses dos ceramistas nas áreas econômicas, jurídicas, tributárias, dentre outras. “É extremamente importante que o nosso setor tenha sempre mais associados, pois a quantidade de associados é que nos dá força perante a sociedade como um todo”, enfatiza o novo presidente da Anicer, Natel Moraes.

Esse discurso também já está afinado com o do novo vice-presidente da associação, João Neto. “Os associados são a base da Anicer. É por eles que a associação foi criada e é para eles que ela deve atuar. Quanto mais ceramistas engajados a participar de uma entidade mais forte, mais projetos focados na necessidade do setor e mais qualidade de nossas empresas e de nosso mercado”, destacou.

Contudo, essa não é uma visão marcada por interesses. O economista João Carlos Leonello, doutor em Serviço Social pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), acredita no associativismo como uma saída para o desenvolvimento econômico. “Eu acredito nisso e diria ainda mais: o associativismo tem papel importante no fortalecimento do capital social, que significa algo pertencente a uma comunidade ou sociedade”, ressaltou.

Leonello, que também atua como professor e pesquisador adjunto da Universidade Estadual do Paraná (Unespar), é especialista nos temas clustes e distritos industriais, cooperativismo/associativismo e economia solidária. Ele participa do grupo de pesquisa “Desenvolvimento econômico e social, sob a perspectiva regional e urbana”, atuando também como consultor nas áreas econômico-financeiras, desenvolvimento de projetos de viabilidade e treinamentos voltados ao empreendedorismo e gestão financeira.

Apesar de seu trabalho focar em cases da agricultura familiar, o pesquisador esclarece a resistência ao associativismo no país, além de explicar como essa prática, independente do tipo de rede de associados, é uma alternativa para enfrentar momentos de recessão econômica. Confira a entrevista:

Por que no Brasil há ainda essa resistência ao associativismo? É cultural?

Eu diria que, em determinadas regiões do Brasil, existe mais resistência ao desenvolvimento do associativismo do que em outras. E isso tem haver sim com questões culturais dessas regiões, em face de aspectos da forma como foram colonizadas, principalmente no que se refere à origem de seus colonizadores. Nos estados da região sul (Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul), onde temos colônias de migrantes de italianos, alemães e franceses que trabalham objetivos econômicos e sociais comuns a todos os seus pares, há uma maior facilidade em relação aos valores éticos da honestidade, transparência, reponsabilidade social e preocupação pelo semelhante.

O associativismo é um caminho para o desenvolvimento social e econômico?

Eu acredito nisso e diria ainda mais: que o associativismo tem papel importante no fortalecimento do capital social, que significa algo pertencente a uma comunidade ou sociedade. Esse assunto tem se apresentado como uma importante linha de análise pelas ciências sociais, contribuindo principalmente para o desenvolvimento social e econômico de determinadas comunidades e regiões. Neste momento, estou em fase final de elaboração de um artigo, “O associativismo da agricultura familiar como indutor do desenvolvimento local e do fortalecimento do capital social em Corumbataí do Sul-PR”, demonstrando especificamente como as ações de uma cooperativa da agricultura familiar, através da diversificação da pequena propriedade rural – com a fruticultura, gerando emprego e renda no campo –, e da verticalização da produção – com a implantação de uma agroindústria de processamento de polpa de frutas –, possibilitou o fortalecimento do capital social, inclusão social e produtiva de seus associados; e como isso promove também o desenvolvimento local, a geração de emprego e renda no meio urbano; ampliação na arrecadação de impostos (ICMS) via industrialização, refletindo em maiores repasses pelo governo do estado ao município e possibilitando ainda a criação de novos empreendimentos no meio urbano para atender algumas demandas que a própria cooperativa não atende.

Como o associativismo pode ajudar a enfrentar esses momentos difíceis da economia, como o que estamos vivendo?

Na conjuntura econômica atual, o associativismo enquanto agente de desenvolvimento social e econômico comprometido com o desenvolvimento local, não deve prescindir do papel da autossuficiência local. Em tempos de desemprego, o associativismo numa perspectiva econômica e solidária, se constitui em força estratégica capaz de melhorar as condições locais de vida das pessoas e de uma população, sob todas as suas dimensões. No entanto, ações nesse sentido só terão retorno no médio e longo prazo, quando as relações de cooperação e corresponsabilidade forem abertas a todas as pessoas aptas a utilizar de seus serviços, dispondo-se a aceitar as reponsabilidades de sócio, sem discriminação social, racial, política, religiosa e de gênero.